Monday, September 23, 2024

A Igreja Velha

 5° Capítulo do Livro "Parazinho" de João Victor Mascarenha 



   A Igreja Primaz de Nossa Senhora do Livramento de Parazinho ou Igreja Primitiva de Parazinho, popularmente chamada de Igreja Velha ou Educandário (devido as salas de aula que funcionaram ali na década de 60/70 do século passado), é hoje a construção mais antiga existente na região, seu núcleo central, foi erigido em pedra nos primeiros anos do século XVIII, ainda no início da colonização. Possivelmente foi inaugurada no ano de 1719; e sua construção é atribuída ao Capitão Domingos Machado Freire e ao Padre João de Matos Monteiro.

     Sua construção se deu na época do curato do primeiro cura da Ribeira do Acaracú (Acaraú), o já citado Padre João de Mattos Monteiro da Congregação do Oratório de São Felipe Néri, também conhecido como Padre Matinhos ou Padre Matosinhos, apelidos estes devido ao seu parentesco com o Padre João de Mattos Serra, que foi Vigário geral do Ceará. Padre João Matosinhos que administrou os sacramentos na região de 1712 a 1724.

     Em 1722, em informações para um processo movido contra os Jesuítas, o Padre João de Matos Monteiro informa que quando chegou a região, ainda não existia nenhuma igreja, e após o seu trabalho foram construídas algumas capelas. 

    Assim escreveu Padre Matosinhos sobre a construção dessas igrejas: “uma que fez o coronel Félix da Cunha Linhares, outra o capitão Domingos Machado Freire e duas mais que estão para erigirem com licença que o justificante alcançou do reverendo cabido, uma da companhia a Pedro da Rocha e outra o coronel Rodrigo da Costa”.

     A igreja construída pelo Coronel Félix da Cunha Linhares foi a igreja de Nossa Senhora da Conceição de São José, hoje Patriarca, Distrito de Sobral. Essa igreja em Patriarca poucos anos depois foi demolida e construída novamente tempos depois; sendo assim a Igreja Primaz de Parazinho, construída pelo Capitão Domingos Machado é hoje a mais antiga.

     Os primeiros registros eclesiásticos do Curato só foram feitos a partir de 1726. Esses registros dão nota à batismos, principalmente batismos de escravos e nativos, óbitos e visitas dos Padres visitadores; dentre os visitadores o Padre Doutor Félix Machado Freire que tinha parentesco com o Capitão Domingos, possivelmente irmãos.

     Padre Félix Machado Freire, em uma de suas visitas, em 20 de maio de 1736, aqui em Parazinho deixou um provimento de grande importância a historiografia e história eclesiástica.

   Determinava que os vigários deveriam deixar livros de registros nas Capelas de São José (Patriarca), Pará (Parazinho), Tremembés (Almofala), do Riacho (Groaíras) e que a sede do Curado deveria ficar entre essas Capelas; a Capela de Nossa Senhora da Conceição de São José foi escolhida como Matriz até que fosse estabelecida à Matriz, que foi em 1742 a Capela de Nossa Senhora da Conceição da Caiçara, hoje Sobral.

     A Igreja Primitiva de Parazinho, desde sempre foi frequentada por fiéis e devotos da Virgem do Livramento, mas isso não impediu que com a passagem das décadas, sua estrutura se abalasse. Nos relatórios sobre a situação emergente da terrível seca de 1877, se falava que a igreja estava com algumas ruínas, mais nada foi feito com os recursos advindos aos socorro dos flagelados da seca.

     Somente no vicariato do Padre Leandro Texeira Pequeno, a igreja foi reformada, nos anos 1898 e 1899, foram efetuados muitos reparos e melhoramentos que sanaram alguns problemas que foram causados pela natural passagem do tempo. O período áureo da Igreja Primaz de Parazinho foi durante o vicariato do Mons Vicente Martins da Costa.

    Durante o paroquiato do Monsenhor Vicente Martins a igreja passou por um grande embelezamento e por significativos melhoramentos estruturais entre os anos de 1908 a 1928, foram construídos altares, coro e principalmente as naves laterais de 1912 a 1918, dando a igreja forma de Cruz, ladrilhadas apenas em 1928. Em 1925 foram pintadas nas paredes da igreja por Pedro Fructuoso, cenas da vida de Nossa Senhora e da história da Igreja.

     Após a construção do atual Santuário, a Igreja Primitiva foi abandonada, servindo apenas como depósito para os centenas de ex-votos e outros objetos. Em 1964, o vigário de Martinópole, Padre Egberto Rodrigues de Andrade que estava curando o Parazinho, procedeu uma reforma, hoje considerada injustificável visto que foram derrubados os altares e quase se derruba toda a igreja, que foi salva devido sua sólida construção em pedra. 

    Em 1966 se tornou Educandário, fundado pelo então vigário Padre Benedito Albuquerque. 

Em 2006, uma nova reforma modificou a estrutura de uma nave lateral. Foi amplamente reformada entre os anos de 2009 a 2014, quando entre outras obras foi reconstruída uma nave lateral que desmoronou. Atualmente (2024) funcionam na Igreja Velha; a Sala dos Milagres, o Museu, a Secretaria, o Salão Paroquial, além de uma cozinha solidária. 



Obs: Direitos reservados ao autor: João Victor Mascarenha. 

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