Livro: A Novena de Nossa Senhora do Livramento
Por Mons. Vicente Martins
Ano: 1925
O histórico livro da novena de Nossa Senhora do Livramento de Parazinho, do ano de 1925, é o primeiro livro que conseguimos encontrar, relatando a história de Parazinho por meio do relato de inúmeras graças alcançadas por intercessão de Nossa senhora do Livramento em sua milagrosa Igreja de Parazinho.
Este livro, que é um dos principais tesou-ros de nossa história, foi escrito a exatamente cem anos, por Mons. Vicente Martins da Costa de venerável memória, então, em comemoração ao centenário de tão significativa memória de nossa terra, publicamos aqui, para a perpetuação desta obra, o conteúdo integral do livro.
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Obs: não modificamos a grafia original, o que faremos em uma publicação futura e no contexto do centenário deste histórico documento, faremos uma publicação do texto atualizado com a grafia moderna e outra publicação com explicações e comentários sobre essa salutar obra que primeiro registrou nossa história.
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Capa do Livro |
NOVENA
DE
N. Senhora do Livramento
CEARA-FORTALEZA
Typ. Minerva-ASSIS BEZERRA-Rua Major Facundo, 111 e 113
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1925
Imprimatur.
Sobraliae die 29 Novembris, anno 1924.
Agesilaus de Aguiar.
Vicarius Generalis.
NOVENA
A
N. Senhora do Livramento
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Invocação ao Espirito Santo
Oh! vinde a nós, Espirito Santo!
Do céo vossa luz nos mandae!
Oh! vinde inspirar nosso canto!
E nossa Iraca fé e confiança animae!
Abrasae em divinas chammas,
Inflammae em celestial ardor,
Os nossos corações e almas,
Do mais ardente e do mais puro amor!
V/. Enviae, Senhor, o vosso espirito e tudo será creado,
R/. E renovareis a face da terra
ORAÇÃO
Deus que illustrastes os corações dos fieis com a luz do Espirito Santo, concedei-nos que pelo mesmo Espirito saibamos tudo o que é recto, e nos alegremos sempre com a sua consolação. Assim seja.
Acto de Contrição
Senhor meu, Jesus Christo, Deus e Homem verdadeiro, Creador e Redemptor meu, por serdes vós quem sois, summamente bom e digno de ser amado sobre todas as cousas, peza-me, Senhor, de todo meu coração, de vos ter offendido, peza-me tambem porquе podeis me castigar com o inferno; ma mas proponho firmemente ajudado da vossa divina graça emendar-me e nunca mais tornar a vos offender e espero alcançar o perdão pela vossa infinita misericordia. Amem.
V/. Deus, vinde em meu auxilio.
R/. Senhor, apressae-vos em me soccorrer.
V/. Gloria ao Padre e ao Filho e ao Espirito Santo.
R/. Assim como era no principio e agora e sempre, e por todos os seculos dos seculos. Amem.
Oração Preparatoria
Maria Santissima, Mãe amabilissima, Mãe cheia de affecto e de doçura para com os vossos filhos devotos, nós humildeniente prostrados vos invocamos e louvamos, hoje, sob o titulo de N. Senhora do Livramento, e vos pedimos e supplicamos que nos ajudeis a fazer bem este exercicio: dissipae todas as nossas distracções; excitae-nos a uma verdadeira e perfeita contrição; afervorae os nossos corações e assim como livrastes ao Menino Jesus do perigo da morte, livrae-nos também da morte do peccado. Vós sois a protectora dos naufragos, o remedio dos enfermos, o consolo dos aftlictos e o amparo seguro e perpetuo do christão em toda adversidade. Nunca se ouviu dizer, que algum daquelles que recorreram á vossa protecção, fosse por vós desamparado. Animados, pois, de, confiança em vosso patrocinio, pedimos-vos a graça de guiar os nossos passos, defender-nos de todas as ciladas do demonio, livrar-nos de todos os perigos e males nesta vida, e dirigir o nosso entendimento, a nossa vontade e as nossas acções para honra de Deus, e o amar-vos com puro affecto dos nossos corações, como vós o amastes cá na terra, para que depois o possamos gosar, comvosco, no céo, por toda a eternidade. Amem.
Jaculatorias
I Gloriosissima Virgem do Livramento, Mãe poderosissima, exercitae comnosco o vosso grande poder soccorrendo-nos nas tentações do demonio e quebrantando-lhes as forças, de sorte que nunca mais tenhamos a infelicidade de cahir em peccado mortal.
Ave Maria e Gloria.
Il Gloriosissima Virgem do Livramento, Mãe misericordiosissima, apressae-vos em nos soccorrer: livrae-nos em todos os perigos e tribulações, e principalmente nas molestias que nos opprimem neste mundo, pois só de vós esperamos auxilio prompto e seguro.
Ave Maria e Gloria.
III Gloriosissima Virgem do Livramento, Mae misericordiosissima, que tão promptamente soccorreis aos que vos invocam, concedei-nos a graça do soccorro perpetuo de vossa efficaz protecção, hoje, como durante toda nossa vida e principalmente na hora de nossa, morte.
Ave Maria e Gloria.
Offerecimento
Rainha do céo, Mãe Santissima, Virgem Gloriosissima do Livramento, nós que, por muito tempo, temos sido escravos do demonio, agora ajoelhados, verdadeiramente arrependidos dos nossos peccados e das offensas que temos feito ao vosso divino Filho, nos pedimos, acceiteis o offerecimento que vos fazemos destas orações, dos nossos desejos e affectos de nossos corações. Agora nos consagramos a vós como servos perpetuos e nos offerecemos a louvar-vos e servir-vos por todo tempo de nossa vida. Acceitae-nos, pois, por vossos servos. Ah! Não nos regeiteis como merecemos. O' Mãe do Livramento, em vós temos posto todas as nossas esperanças. Bemdizemos a Deus, e lhe rendemos graças de nos dar em sua misericordia esta confiança em vós. Verdade é que, quanto ao passado, temos miseravelmente cahido em culpas; mas esperamos pelos merecimentos de Jesus Christo, e por vossos rogos, que já teremos alcançado o perdão. Mas, não nos basta sómente isto, ó Mãe cheia de bondade! um pensamento nos afflige, e é que possamos tornar a perder a graça divina. Os perigos são continuos, os inimigos não dormem e novas tentações têm de assaltar-nos. Ah! protegei-nos, pois, Senhora nossa, ajudae-nos no meio dos assaltos do inferno; e não permittaes que naufraguemos no mar tempestuoso desta vida cahindo em peccado; sêde a nossa estrella, o nosso remedio e o nosso amparo; livrae-nos em todo decurso desta vida mortal de todos os males terrenos e fazei que vos amando sempre e cada vez mais, possamos com as virgens e santas e santos do céo cantarmos na outra vida a vossa eterna bondade e celestial protecção. Assim seja.
Ladainha
Senhor, tende piedade de nós.
Jesus Christo, compadecei vos de nós,
Senhor, tende piedade de nós.
Jesus Christo, ouvi-nos,
Jesus Christo, escutae-nos.
Deus, Pae celestial, tende piedade de nós.
Deus, Filho, Redemptor do mundo, tende piedade de nós.
Deus, Espirito Santo, tende piedade de nós.
Santa Maria,
Santa Mãe de Deus,
Santa Virgens das Virgens,
Mãe de Jesus Christo,
Mãe da Divina graça,
Mãe Purissima,
Mãe Castissima,
Mãe Immaculada,
Mãe Intacta,
Mãe Amavel,
Mãe Admiravel,
Mãe de Bom Conselho,
Mãe do Creador,
Mãe do Salvador,
Virgem Prudentissima,
Virgem Veneravel,
Virgem Louvavel,
Virgem Poderosa,
Virgem Benigna,
Virgem Fiel,
Espelho de Justiça,
Templo da Sabedoria,
Causa da nossa alegria,
Vaso Espiritual,
Vaso Honorifico,
Vaso de insigue devoção,
Rosa Mystica,
Torre de David,
Torre de Marfim,
Casa de Ouro,
Arca d'Alliança,
Porta do céo,
Estrella da manhã,
Saúde dos enfermos,
Refugio dos peccadores,
Auxilio dos christãos,
Consoladora dos afflictos,
Rainha dos Anjos,
Rainha dos Patriarchas,
Rainha dos Prophetas,
Rainha dos Apostolos,
Mãe de Bom Conselho,
Mãe do Creador,
Mãe do Salvador,
Virgem Prudentissima,
Virgem Veneravel,
Virgem Louvavel,
Virgem Poderosa,
Virgem Benigna,
Espelho de Justiça,
Virgem Fiel,
Templo da Sabedoria,
Causa da nossa alegria,
Vaso Espiritual,
Vaso Honorifico,
Vaso de insigue devoção,
Rosa Mystica,
Torre de David,
Torre de Marfim,
Casa de Ouro,
Arca d'Alliança,
Porta do céo,
Estrella da manhã,
Saúde dos enfermos,
Refugio dos peccadores,
Consoladora dos afflictos,
Auxilio dos christãos,
Rainha dos Anjos,
Rainha dos Patriarchas,
Rainha dos Prophetas,
Rainha dos Apostolos,
Rainha dos Martyres,
Rainha dos Confessores,
Rainha das virgens,
Rainha de todos os Santos,
Rainha concebida sem peccado original, Rainha do Sacratissimo Rosario,
Rainha da Paz,
Cordeiro de Deus, que tiraes os peccados do mundo, perdoae-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tiraes os peccados do mundo, ouvi-nos Senhor. Crdeiro de Deus, que tiraes os peccados do mundo, tende misericordia de nós.
Antiphona
(Sub Tuum)
A' vossa protecção recorremos, Santa Mãe de Deus.
Não desprezeis nossos rogos; mas livrae-nos, sempre, de todos os perigos, ó virgem, gloriosa e bemdicta.
Rogae por nós, Santa Mãe de Deus.
Para que sejamos dignos das promessas de Christo.
OREMOS
Infundi, senhor, como vos pedimos, vossa graça em nossas almas, para que nós, que pela Annunciação do Anjo viemos ao conhecimento da Encarnação do vosso Filho, por sua Paixão e Morte de Cruz, sejamos conduzidos á gloria da Resurreição. Pelo mesmo Jesus Christo nosso Senhor, Amem.
Hymno
Coro
O' Virgem do Livramento,
Divina Mãe de bondade,
Em vosso manto abrigae-nos,
Na vida e na eternidade.
Hymno
O' Virgem do Livramento,
Thesouro de Salvação,
Sois a esperança dos crentes,
O' Mãe de consolação.
Em qualquer que seja o transe
Da vida do peccador,
Sois a estrella da piedade,
Misericordia e amor.
Quem a vós recorre, ó Virgem
Dispensadora do Eterno,
Encontra um mar de bonança
No vosso regaço terno
O' Virgem do Livramento.
Libertadora divina,
Livrae-nos de todo mal,
Immaculada Regina.
Graças
Passamos para aqui algumas graças attribuidas a N. Senhora do Livramento, que se venera na capella da povoação do Parasinho da Freguesia de Granja, que publicamos conforme ouvimos dos proprios informantes, salvaguardando os santos ensinamentos da Egreja.
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Conta-se que no anno de 1700 mais ou menos, um navio de vela conduzindo mercadorias, partira de Pernambuco em rumo para o Ceará. Depois de longos dias de penosa viagem, formou-se horrivel temporal. Era noite. No céo o relampago fendia o espaço e o trovão echoava de lado a lado. Um vento violento soprava com furia, rasgando as velas do barco e o mar encapellado ameaçava tragar em um instante a fragil embarcação com todos os tripulantes.
Os infelizes navegantes aterrorizados com o horror da tempestade imploram a N. Senhora do Livramento de quem por devoção costumavam recorrer, fazendo voto de, si tivessem a felicidade de escapar com vida da pavorosa tormenta erigiriam em terra no logar em que encontrassem uma pessoa mansa que lhes podesse soccorrer, um altar á excelsa Rainha.
A náu foi a pique nas proximidades do Gericoacoara, afundando-se nas aguas com toda carga e alguns tripulantes.
Tres dos naufragos, os unicos que se salvaram, aportaram áquella costa, que era então habitada por indios selvagens.
Por alguns dias percorreram as praias; depois dirigindo-se para o interior marginaram um pequeno lago e seguindo por um riacho, subiram a uma collina ou pequeno outeiro com o fim de descortinarem o horizonte e melhor se orientarem, quando encontraram-se com um caçador que os conduziu a sua pobre choupana.
Em cumprimento do voto erigiram logo uma casa de oração e um altar a N. Senhora do Livramento no local do encontro com o caçador, que é o mesmo em que está a capella do Parasinho.
O facto miraculoso propalou-se entre os moradores da visinhança e com o passar do tempo a devoção á excelsa Rainha foi se divulgando e hoje é dos oratorios o mais notavel do norte do Ceará, pelo crescido numero de romeiros que constantemente visitam a milagrosa capella.
Para commemorar-se esta graça que foi a origem desta devoção no Parasinho, é costume introduzido de alguns annos a esta data, haver no tempo da Festa uma procissão intitulada do Barco de N. Senhora em que é conduzido festivamente um barco por mais de cem moças phantasiadas de marujo.
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D. Zulmira Torreão de Lacerda, moradora em Belem, capital do Estado do Pará, viuva do Desembargador Joaquim de Paula Pessoa de Lacerda e irmã do Dr. Enéas de Araujo Torreão, que foi presidente da Provincia do Ceará, no governo do Imperio, estando ha muito tempo adoentada, percorreu as capitaes de Pernambuco, Parahyba, Rio Grande do Norte e Ceará em busca de saude e não encontrando medico que a curasse, recorreu então a N. Senhora do Livramento que se venera na capella do Parasinho, fasendo promessa de assistir a uma Festividade toda com a toilette mais simples que tivesse e auxiliar a Festa promovendo leilões e da melhor forma que lhe fosse possivel, ficando poucos dias depois restabelecida completamente.
Em 1904 estando ainda a residir em Belem do Pará, veio dessa capital á povoação do Parasinho e cumpriu a sua promessa, sendo celebrante da Festividade o vigario Padre Leandro Teixeira Pequeno, de saudosa memoria.
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Em 1901 o Dr. Enéas de Araujo Torreão, que foi presidente da Provincia do Ceará, Interessando-se pela educação de seu sobrinho e afilhado de nome Arthur, que tinha nove annos de idade e era alumno do Collegio do Sagrado Coração de Jesus em Petropolis, sendo reitor o Rev. Frei Ciriaco, retirou-o do collegio e mandou-o para a Inglaterra matricular-se no Collegio de S. Carlos, dirigido por padres catholicos.
D. Zulmira Torreão de Lacerda, estremecida avó materna do pequeno estudante, cheia de cuidado e receiosa de que seu neto perdesse a fé em um paiz protestante, prometteu a N. Senhora do Livramento, que se elle tão distante de seus parentes gosasse saude e voltasse apto para ganhar a vida conservando os mesmos sentimentos de religião que são tradicionaes á familia, faria toda a Festa de N. Senhora do Livramento auxiliada por elle e por sua digna mãe D. Josepha Torreão de Lacerda Redig, que é sua estremecida filha.
De facto, tempos depois, com dezoito annos de idade, voltou elle da Inglaterra com o curso commercial concluido e empregou-se no London Banc do Pará, trazendo n'alma os mesmos sentimentos religiosos da familia e frequentando os sacramentos.
Em 1907, em agradecimento e cumprimento da promessa D. Zulmira Torreão de Lacerda veio do Pará ao Parasinho e assistiu a Festividade da excelsa padroeira dessa povoação que foi celebrada com grande pompa, de que se encarregou occorrendo as despesas por conta sua e de sua familia, sendo celebrante o vigario da Freguesia Padre Vicente Mar- tins da Costa.
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Manoel Caetano de Lemos, irmão do Dr.Arthur Lemos, que foi presidente do Estado do Pará, indo assistir a uma Exposição nо Rio de Janeiro e sendo atacado de variola, abandonou, a familia para recolher-se ao Isolamento de variolosos, por ordem da Inspectoria de Hygiene, tendo deixado sua irmā D. Iguezilha de Lemos em grande afflicção.
A variola atacou-o de uma maneira horrivel, principalmente o rosto que ficou com- pletamente desfigurado. Sua irmā aprehensiva com o rigor com que a variola se manifestara, recorreu a N. Senhora do Livramento promettendo mandar dous jarros com duas palmas para o altar da milagrosa imagem si seu irmão se restabelecesse e não ficasse com o rosto defeituoso.
Em 1913 de ordem de D. Ignezilha dé Lemos a Sra. D. Zulmira Torreão de Lacerda entregou ao Vigario da Freguesia dous jarros e duas palmas para o altar da Virgem do Livramento, pois o Sr. Manoel Caetano de Lemos ficara completamente restabelecido sem lhe ficar no rosto o menor vestigio ou cicatriz de variola.
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Lino Telles de Menezes, solteiro, creador, com 80 annos de idade, morador e proprietario da fazenda Sambaiba, declarou-nos que em 1883 tendo nascido-lhe uma ferida na palma do pé direito, a qual chegou a tomar toda a palma e os dedos quasi todos e a parte inferior do pé reduzindo todo a uma só chaga, fez uso de innumeros remedios, mas o mal ia sempre progredindo ao ponto de ter ficado impossibilitado de andar por muito tempo. Não encontrando recurso na me dicina fez voto a N. Senhora do Livramento de ir visitar a sua capella no Parasinho se chegasse a ficar curado. Entrando depois em uso de medicamentos caseiros, que ha muito havia abandonado, curou-se completamente, o que attribue a N. Senhora do Livramento,
Em 1884 em companhia de seu irmão Gal dino Telles foi visitar a capella de N. Senhora do povoado do Parasinho em cumprimento do voto.
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Miguel José de Carvalho, casado, com 60 annos de idade, morador. na fazenda Pitimbú de sua propriedade, em 1890 adoeceu de pequena dor do lado esquerdo abaixo do peito, dor esta que augmentando de dia para dia, com febre e vomitos de pús, prostrou-o por mais de dous mezes, chegando ao ponto de ser vigiado por algumas noites, tal era o seu estado de grave prostração. Sem esperança mais de recuperar a saude por meio de medicamentos pharmacenticos, fez voto a N. Senhora do Livramento de ir visitar a sua ermida no Parasinho, e varrela; e pouco a pouco com uso de alguns medicamentos caseiros veio a restabelecer-se e attribue esta graça á intercessão de N. Senhora do Livramento.
Em Novembro do mesmo anno em companhia de sua mulher D. Anna Raymunda de Souza e seu tio Francisco Vaz de Carvalho foi ao Parasinho cumprir a sua promessa.
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CAPELLA DO PARASINHO (vista lateral)
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João Porfirio de Andrade Fontenelle, casado, morador no arraial do Iboassú, em 1874, tendo adoecido seu pae Porfirio de Andrade Fontenelle, de uma dor no baixo ventre seguida de urinas sanguineas, inspirando os maiores cuidados, principalmente por falta de recursos medicos, appellou para sua devoção a N. Senhora do Livramento e fez voto de ir com elle resar um terço ao pé do altar de sua imagem na capella do Parasinho e dar uma esmola. Pouco tempo, depois ficou seu pae completamente restabelecido e viveu ainda muitos annos.
A promessa foi cumprida no anno seguinte. Tomaram parte na viagem, Porfirio de Andrade Fontenelle, seu filho João Porfirio de Andrade Fontenelle, sua mulher D. Joanna de Britto Fontenelle e seu cunhado Eduardo Silvestre de Britto, que iam tambem cumprir votos que haviam feito.
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D. Maria Adelina Fontenelle, filha de João Porfirio de Andrade Fontenelle e D. Joanna de Britto Fontenelle, moradora no arraial do Iboassú, em 1909, soffrendo de cscrofulas no pescoço, que lhe duraram cerca de tres annos, tendo recorrido a diversos medicos e não encontrando remedio que a curasse recorreu a N. Senhora do Livramento, fasendo voto de resar um terço ao pé do altar da milagrosa Imagem, dar uma esmola e varrer a egreja.
Não passou muito tempo e estava completamente curada.
Em 1912 em companhia de seu irmão Sebastião de Britto Fontenelle foi ao Parasinho cumprir a sua promessa.
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D. Adriana Lyra Castro, casada com o Dr. Geminiano Lyra Castro, moradores no Rio de Janeiro, estando sua irmā D. Mar colina Santos a soffrer da vista ha uma porção de annos, não podendo ler nem costurar, tendo os olhos a lacrimar constantemente, recorreu em suas orações a N. Senhora do Livramento do Parasinho, cujos prodigios já bem conhecia, pedindo a graça do restabelecimento da vista de sua irmã, que remedios não encontrava na medecina, e logo obteve a graça desejada: ficou D. Marcolina completamente bôa, podendo perfeitamente ler e costurar.
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Francisco Luiz de Souza, casado com Joaquina Maria da Conceição, antigos moradores do municipio de Granja, tendo mudado de residencia, retirando-se com a familia para Conceição perto de Araiós no Estado do Maranhão, cerca de cincoenta leguas distante de Granja e temendo as doenças, principalmente o impaludismo reinante naquelle logar por demais insalubre, prometteu a N. Senhora do Livramento, si lá gosasse de boa saúde com sua familia e se fosse bem em seus negocios, de vir de dois em dois annos visitar a egrejinha de N. Senhora do Livramento e dar uma esmola.
E como tem alcançado a graça veio pela terceira vez em 1913 visitar a milagrosa capella, com mais tres companheiros que tambem vieram por promessa.
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D. Maria Firmina de Oliveira, com 72 annos de idade, casada com o major Joaquim Pereira de Oliveira, moradores na cidade de Granja, tendo sido acommettida de um cobreiro que a prostrou gravemente durante o tempo de seis mezes, já sem esperança de encontrar na medicina remedio para a curar, pois já havia recorrido a quatro medicos conceituados, fez o voto a N. Senhora do Livramento de visitar todos os dias durante um mez a Capella do Parasinho da excelsa Rainha, si viesse a ficar restabelecida. De facto, logo manifestaram-se as melhoras e depois de oito dias se achava quase comple- tamente boa.
Em cumprimento do voto no dia 2 de junho de 1923, transportou-se com toda familia para o Parasinho, onde demorou-se até o dia 2 de julho, dia da solemme Festividade.
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Joaquim Pereira de Oliveira, com 67 annos de idade, casado com D. Maria Firmina de Oliveira, chefe da firma commercial Joaquim Pereira de Oliveira e Filhos, de Granja, tendo sido accommettido em 1909 de uma dor aguda no peito direito com signaes evidentes de aneurysma na aorta, recorreu aos medicos da localidade e em seguida á diversos medicos da Fortaleza, onde demorou-se um mez em tratamento com os mais notaveis profissionaes e não tendo nenhum allivio resolveu voltar, sem esperanças de restabelecimento. Já desanimado chegando em Granja, recorreu a N. Senhora do Livramento fazendo voto de si viesse a se restabelecer fazer por conta propria a Festividade de N. Senhora do Livramento do Parasinho, que costuma ser em 2 de julho de cada anno, precedida de um exercicio de nove dias novenarios.
Pouco depois apresentavam-se os symptomas de melhora, tendo ficado completamente restabelecido, não tendo de então para cá lhe reapparecido o menor encommodo. E em 1910 cumpriu a sua promessa, fazendo todas as despesas da solemme Festividade.
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José Martins dos Santos, com 48 annos de idade, casado com D. Ignacia Alves dos Santos, commerciante, morador na povoação do Parasinho, apanhara uma constipação nos olhos em 1911, que lhe durou por espaço de dous annos, tendo por fim perdido completamente as duas vistas e não encontrando recursos na medicina, depois de ter consultado inutilmente a dois conceituados medicos, lembrou-se de recorrer a N. Senhora do Livramento, cuja imagem se venera na capella do povoado do Parasinho; fasendo o voto de si lhe fossem restituidas as duas vistas, mandaria por sua conta faser a Festividade, que se costuma celebrar em 2 de julho de cada anno. Tempo depois restabeleceu-se completamente, estando hoje com as vistas perfeitas e attribue essa graça á intercessão da milagrosa Virgem do Livramento, cuja imagem alli se venera.
Em 1919 cumpriu o seu voto fasendo todas as despesas da Festividade.
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Dr. Targino Cezar Affonso Filho, juiz de Direito da Comarca de Granja, com 45 annos de idade e sua senhora D. Emiliana Nery Affonso, fizeram ambos o seguinte voto a N. Senhora do Livramento: si durante o tempo em que estivesse elle como magistrado em Granja, de nenhuma molestia fossem acommettidos, iriam todos os annos em romaria á pé ao tempo da Festa da excelsa Rainha.
Ha tres annos a partir de 1921 que cumprem esse voto.
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Joaquim Arthur de Carvalho, pharmaceutico, natural de Granja, estando a residir em Fortaleza, soffreu de uma desinteria amebiana e usando o especifico para esta molestia sentiu apezar disto que suas forças tinham desapparecido por completo a ponto de não poder se erguer do leito. Nesta occasião implora a N. Senhora do Livramento que se venera no Parasinho, para que lhe restabelecesse a saúde, que iria assistir a Festa. Quinze dias depois deste pedido desappareceram por completo as aiebas; pelo que transportou-se ao Parasinho, chegando ahi no dia 21 de junho de 1923, com sua irmã D. Maria Amelia de Carvalho Paiva, senhora do Desembargador Joaquim Olympio de Paiva, com suas filhas D. Maria Amelia, D. Arthurieta de Carvalho, D. Noeme Leal e seu filho Joaquim Arthur de Carvalho Filho, afim de assistirem a Festividade em cumprimento a promessa.
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Joaquim Arthur de Carvalho Filho, com 26 annos de idade, casado com D. María de Lourdes de Carvalho, funccionario federal residente em Camocim, achando-se em Pernambuco em 1918, foi atacado de uma gripe intestinal, sendo desenganado pelos medicos assistentes, Passada uma crise em que perdera os sentidos, lembrou-se de recorrer a N. Senhora do Livramento, fasendo voto de si recuperasse a saúde, estando em Granja ou Camocim, donde podesse se transportar ao Parasinho, ir todos os annos assistir de joelhos a missa cantada da Festa. Poucas horas depois manifestaram-se os primeiros symptomas de melhoramento, vindo a restabelecer-se completamente.
Desde 1919 que assiste a missa solemne da Festa em cumprimento de seu voto.
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João da Silva Ramos, com 38 annos de idade, casado com D. Edissa Carneiro Ramos, commerciante, morador na cidade de Camocim, por occasião da fallencia da firma commercial Nicolau e Carneiro, sendo elle responsavel por sommas elevadas que obteve de diversos amigos e achando-se a casa em condições precarias de não poder desolver os pagamentos, recorreu a N. Senhora do Livramento, si conseguisse pagar estas sommas sem prejuizo para as partes iria a pé de Granja ao Parasinho e mandaria celebrar uma missa no altar da Milagrosa Virgem.
Como obteve a graça, cumpriu sua promessa no dia 3 de julho de 1923, tendo feito a pé o percurso de cerca de 4 leguas, que é a distancia que permeia da cidade de Granja ao povoado do Parasinho.
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Vicente Ferreira de Queiroz, com 47 annos de idade, natural de Sobral e morador na fazenda S. Domingos de sua propriedade, estando em 1922 sua mulher D. Angelina Sá de Queiroz soffrendo horrivelmente de asthma, que ha tres annos lhe apparecera e não encontrando alivio nos remedios usados por prescripção medica, recorreu a N. Senhora do Livramento fasendo a promessa de ir com sua mulher ao Parasinho assistir a cinco novenas da Festa, si a milagrosa Virgem aliviasse a afflicção que ella sentia proveniente da grande falta de ar que a suffocava.
Poucos dias depois D. Angelina ficou completamente bôa; e attribue essa graça a excelsa Rainha N. Senhora do Livramento.
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Antonio Arruda Moreira, natural do municipio da Palma, morador no povoado do Riachão, casado, com 56 annos de idade, em 1912 apanhara um encommodo nos intestinos, que agravou-se estendendo-se ao estomago com dores horriveis, ficando prostrado por muitos dias. Sem esperanças de adquirir a saude pois já tinha feito inutilmente uso de todos os remedios possiveis, e como lhe aconselhassem que recorresse a N. Senhora do Livramento, fez o voto de si ficasse restabelecido, ir á pé ao Parasinho visitar a imagem de N. Senhora e lá deixar uma esmola.
Dias depois se achava completamente bom e em janeiro de 1913 foi a pé do Panacuhy ao Parasinho, cerca de cinco leguas, em cumprimento de seu voto.
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Jacintho Alves de Souza, casado, com 31 annos de idade, natural e morador no povoada do Riachão, fora acommettido em 1921 de um tumor purulento intestinal, que o prostrou por cerca de seis mezes. Consultou a diversos medicos e todos eram de opinião que só uma operação poderia o salvar; mas esta seria de resultado duvidoso e que deante do melindroso estado em que se achava, a probabilidade era de um contra noventa e nove.
Receioso de recorrer a uma operação cujo perigo de vida era de 99, resolveu abandonar a idéa de ser operado e implorou a N. Senhora do Livramento, si recuperasse a sua saúde daquella doença que tendia a lhe minar a vida, iria assistir a ultima novena, a missa cantada do dia da Festa e daria uma esmola.
O voto teve uma acção maravilhosa. O tumor deslocalisou-se, dias depois appareceu externamente, vindo á furo, purgando por muitos dias com horrivel intensidade; e ficou quarenta dias depois completamente restabelecido.
Por occasião da Festividade de 1923 cumpriu o seu voto.
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Jenesio Moreira, natural e morador em Granja, com 32 annos de idade, declarou-nos que em 1903 achava-se sua irmã D. Adelia Moreira em Túcunduba, quando fora mordida no tornozello do pé esquerdo por uma cobra cascavel de mais de meio metro de comprido, tendo em pouco tempo perdido por completo a vista e ficado de pescoço deslocado. Não havendo remedio a recorrer implou a. N. Senhora do Livramento si sua irmā recuperasse a vista e ficasse bôa iria com ella ao Parasinho visitar a imagem da Virgem milagrosa e circumdariam a egreja rezando de joelhos.
Pouco depois, quando ha mais de vinte e quatro horas havia ella perdido a visão, recuperou completamente a vista e ficou inteiramente boa.
No mesmo anno foram ao Parasinho em cumprimento, do voto.
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João Seraphim da Silveira, morador na fazenda S. Miguel de sua propriedade, estando em 1904 sua mulher D. Joanna Moreira de Sousa, em um parto laborioso e perdidas as esperanças porque a creança achava-se em posição viciada; já ao terceiro dia não encontrando a quem recorrer, distante de profissionaes que pudessem assistil-a ou operal-a, completamente, desenganado das pessoas peritas circumvisinhas, lembrou-se de N. Senhora do Livramento que se venera na povoação do Parasinho e fez voto, se si salvasse a mãe da creança, pois esta já era tida por morta, de ir com ella em romaria aquelle povoado visitar a imagem de N. Senhora e dar uma esmola. Momentos dépois sua mulher dera á luz uma cre-mança morta, ficando completamente boa.
Mezes depois, no mesmo anno, foram ambos em romaria ao Parasinho em cumprimento da promessa.
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Antonio Carneiro de Arruda, com 40 annos de idade, morador em sua fazenda Alegre, havendo em 1922 seu pae Antonio Carneiro Magalhães recahido de um rheumatismo agudo que soffria ha tres annos e que lhe reapparecera de una maneira horrivelmente dolorosa, prostrando-o em um leito por mais de seis mezes em que ficara como um paralitico, completamente impossibilitado de andar. Não encontrando alivio em nenhum medicamento, valeu-se de N. Senhora do Livramento fazendo voto de, si seu pae se restabelecesse do rheumatismo á ponto de poder andar sem ficar aleijado, ir com elle á capella do Parasinho visitar a milagrosa Imagem e acompanharem de pés descalços a procissão da Festa e darem uma esmola. Não se passaram muitos dias e logo desappareceram as dores, a inchação dos pés e dos joelhos e começou a andar.
Como ficou restabelecido e attribuem esta graça a poderosissima Senhora do Livramento, foram ambos ao Parasinho em 1923 em cumprimento da promessa.
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Em Fevereiro de 1915, D. Elisa Barretto Xavier, senhora do Cel. Ignacio Xavier, moradores em Granja, adoecera em consequencia de um banho, apparecendo-lhe dores muito fortes estando ella em estado de gravidez adeantada, seguindo-se logo horrivel dyspnéa, deixando-a em prostração por asphyxia, com os pés, as mãos é o rosto inteiramente arroxeados. Chamado incontinente o medico, que era um dos facultativos mais peritos da zona, reconheceu tratar-se de um caso grave de collapso do coração, que agravou-se consideravelmente com o parto prematuro, dando ella á luz uma creacinha morta. Exgotados os recursos da sciencia medica, todos da familia, já sem esperanças deante do estado de seu profundo abatimento, como que anteviam de momento um desenlace fatal. No meio da maior consternação, e de toda familia, seu marido o Cel. Ignacio Xavier dirige-se a cunhada D. Emilia Pessoa Barretto e pede-lhe que faça uma promessa pelo restabelecimento de sua mulher. D. Emilia Pessoa soccorre-se de N. Senhora do Livramento fazendo por elles voto, si D. Elisa Xavier se restabelecesse fariam por conta propria a Festa da excelsa Rainha. A protecção da milagrosa Virgem não se fez muito esperar. Os primeiros symptomas de melhora manifestaram-se logo muito sensivelmente e em poucos dias desapparecera de todo a dyspnéa proveniente do collapso do coração, ficando tempo depois completamente restabelecida.
Em 1917, o Cel. Ignacio Xavier transportou-se com toda familia para o Parasinho afim de assistir a solemne Festividade, que por conta propria mandou nesse anno celebrar.
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João Porfirio de Andrade Fontenelle, casado com D. Adelina Maria de Britto Fontenelle, morador no Iboassú, estando a cobrir o tecto de sua casa de engenho, desprendeu se uma das linhas e de uma altura de quatro metros cahiu de uma maneira desastrada no solo, fracturando os dous ante-braços de sorte tal que ficou por mais de dous mezes a alimentar-se por mãos alheias.
Não havendo medico nem pratico habilitado para fazer o curativo exigido, sua filha D. Enedina Fontenelle, réceiosa que seu estremecido pae ficasse defeituoso e inutilisado para o trabalho, fez voto a N. Senhora do Livramento de ir com elle visitar a Capella do Parasinho e rezar um terço si seu pae ficasse completamente bom das consequencias de tão desastrada queda.
Tempo depois com o uso somente de medicamentos caseiros a inchação deśapparecera, as dores horriveis que sentia cessaram, os braços collaram-se perfeitamente, voltando á sua posição natural, parecendo lhe ter sido restituida a mesma força e resistencia que possuia antes, ficando sem nenhum defeito e apto para todo serviço.
Como reconhecessem a intercessão de N. Senhora do Livramento na graça que alcan- çaram, foram em 1910 em romaria á capella do Parasinho em cumprimento do voto que fizeram.
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Jacintho Alves Pereira, casado com Felina de Albuquerque Magalhães, com 38 annos de idade, morador na Gijoca, municipio do Acarahú, tendo tido um accesso de febre com congestão cerebral ficando com as faculdades mentaes perturbadas ao ponto de abandonar a casa e passar 24 horas errando pelas estradas: logo que passou o delirio da fe- bre fez voto a N. Senhora do Livramento de dar as joias que possuia, a saber: um relogio de prata com corrente de ouro e dous anneis tambem de ouro, si não mais fosse acommettido do referido ataque e ficou restabelecido.
Isto foi em 28 de Dezembro de 1911; e no anno seguinte no dia primeiro de Julho foi uma missa em acção de graça e entregou ao Vigario da Freguesia as joias de seu voto.
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Francisco Simphronio Baptista, solteiro, filho legitimo de Francisco Xavier Baptista e Maria do Espirito Santo Magalhães, morador na fazenda Planicie, em 1903 nasceu-lhe em um dos olhos um pequeno tumor com uma espinha na pupila, impedindo-o de ver por mais de um mez. Morando distante da cidade de Granja cerca de cinco leguas e não havendo medico a quem recorrer e aggravando-se cada vez a molestia, a pezar dos innumeros remedios caseiros de que fez uso, sua mãe recorreu a N. Senhora do Livramento com o voto de ir com elle visitar a milagrosa imagem do Parasinho e dar uma esmola. Dias depois o tumor foi pouco a pouco diminuindo ao ponto de desapparecer completamente e recuperar a vista que julgava perdida.
No anno seguinte, já sendo sua mãe falecida, foi elle cumprir a sua promessa em companhia de seu pae Francisco Xavier Baptista e de Maria do Livramento Baptista, Francisco Rodrigues Baptista e o filho deste Francisco Baptista, que iam tambem a titulo de promessa.
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CAPELLA DO PARASINHO (vista de frente)
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José Ignacio da Rocha, casado com Anna Francisca de Maria, com 72 annos de idade, morador na povoação do Parasinho, a 13 de Maio de 1910, quando morava em sua fazenda <<Carro Quebrado>>, depois de haver rezado o terço de N. Senhora com sua familia, como era de seu costume no mez de Maio, logo depois da ceia, sendo já perto de dez horas da noite e explendido o luar, convidou a dous de seus filhos para lhe ajudarem a concluir o retelhamento da casa. Emquanto José Ignacio trepa-se no telhado, que ficava um pouco baixo para receber as telhas, que seus filhos tinham ido buscar, que se achavam pouco distante ao pé de uma arvore bem copada no pateo da casa, estes voltam disendo que haviam encontrado dous vultos trepados nas telhas, que não puderam reconhecer e suspeitando de alguma traição não se atreveram a se approximar do local, porque por mais que fallassem, os vultos que bem lhe pareciam ser de homens não responderam. José Ignacio muniu-se então de uma espingarda clavinote e em companhia de seus filhos dirigiu-se ao local. Approximando-se das telhas e não podendo os taes vultos, viu no entanto que eram dous homens que pareciam projectar algum attentado. Approximou-se mais e perguntou: quem está ahi? A sua palavra correspondeu um tiro, que prostrou-o de rosto por terra.
O projectil varou-lhe um dos labios, quebrou-lhe alguns dentes, rasgando-lhe a língua e foi alojar-se na arcada dentaria. Transportado para casa, recuperou os sentidos perdidos e sentindo-se impossibilitado de fallar e de alimentar-se, fez voto a N. Senhora do Livramento de assistir a tres novenas no tempo da Festa e rezar tres terços si recuperasse a saude, cuja vida lhe parecia em gravissimo perigo de morte pelas consequencias que seguiram-se ao tiro que recebera na bocca.
A graça de N. Senhora não se fez esperar muito. No mez seguinte por occasião da Festa da celeste Rainha, sentindo-se quase restabelecido, embora tivesse a palavra defeituosa, dirigiu-se á Capella do Parasinho para cumprir o seu voto. Concluindo o primeiro terço que rezava ajoelhado ao pé do altar, facto extranho: — a bala atirada pela mão assassina desprendeu-se da arcada dentaria, ficando elle completamente restabelecido.
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Texto extraído da fotocópia do Livro "Novena de Nossa Senhora do Livramento" 1925 - acervo de João Victor Mascarenha.
Fotografia da Capa do Livro: Everton Oliveira.
Excelente resgate de nossa história e tradição religiosa.
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