Apresentação do Jornal
"N.S. DO LIVRAMENTO"
Apresentação do Jornal
"N.S. DO LIVRAMENTO"
Livro: A Novena de Nossa Senhora do Livramento
Por Mons. Vicente Martins
Ano: 1925
O histórico livro da novena de Nossa Senhora do Livramento de Parazinho, do ano de 1925, é o primeiro livro que conseguimos encontrar, relatando a história de Parazinho por meio do relato de inúmeras graças alcançadas por intercessão de Nossa senhora do Livramento em sua milagrosa Igreja de Parazinho.
Este livro, que é um dos principais tesou-ros de nossa história, foi escrito a exatamente cem anos, por Mons. Vicente Martins da Costa de venerável memória, então, em comemoração ao centenário de tão significativa memória de nossa terra, publicamos aqui, para a perpetuação desta obra, o conteúdo integral do livro.
__________
Obs: não modificamos a grafia original, o que faremos em uma publicação futura e no contexto do centenário deste histórico documento, faremos uma publicação do texto atualizado com a grafia moderna e outra publicação com explicações e comentários sobre essa salutar obra que primeiro registrou nossa história.
Texto do Livro "Granja - Assentamentos históricos do município e a festa religiosa de N.s. do Livramento do Parazinho" de Guilherme Teles Gouveia, 1974.
Este texto traz um excelente relato histórico sobre a origem de Parazinho e os avanços naquela década de 1970, a exatos 50 anos. Além disso traz fotos históricas e a novena de Nossa Senhora do Livramento de Parazinho.
Obs: Este livro está exposto no Museu Monsenhor Vicente Martins da Costa.
Publicado no Jornal "Nossa Senhora do Livramento" de 1909.
EM PARAZINHO
Ao P.e V. Martins
Naquela manhã, clara e risonha manhã de julho, sob os quentes raios dum sol, gloriosamente de estio, chegara eu ao Parazinho, onde, ao convite dum velho amigo, o Luiz, ia assistir os últimos dias da festividade da Virgem do Livramento, gloriosa padroeira da encantadora povoação.
Apeando-me à porta da casa do meu hospedador, fui recebido por uma série intempestiva de “bravos e vivas”, partidos dum punhado de antigos condiscípulos e velhos camaradas meus, em cujo número se destacava a figura simpática e rotunda do Luiz, mais alegre, mais hospitaleiro, e, se me permitem o comparativo, mais amigo ainda.
Eu, a princípio, acanhado, fui procurando tornar-me comunicativo, me acamaradando com os homens, sorrindo-me às senhoras, para contrabalançar-lhes no espírito alguma má impressão, causada pelo meu exterior, um tanto exótico, mas tão sem razão foi minha ideia, que, ao quere-la por em prática, fui logo cumulado de atenções e fidalguias, aliás imerecidas, pelos conterrâneos de Lívio Barreto.
À tarde desse mesmo dia, já me achava eu tão familiarizado com essa sociedade de escol, que dir-se-ia conhecido de muitos anos, em convívio quotidiano, e a tal ponto que tornei-me em breve, tão granjense, como os melhores granjenses; tão parazinhense como os mais ardorosos e genuínos filhos do Parazinho.
* *
*
Uma das notas predominantes dessa festa do Parazinho, foi, sem dúvida, o Arthur, o delicioso e incomparável Arthur, em cujo cérebro armazenava, com pasmosa e invejável fertilidade, um sem número de modinhas, cançonetas e chulas, para todos os assuntos, para todas as reuniões.
Numa das vezes, ouvindo eu dum número de senhoritas, agrupadas em roda, os doces e maviosos acordes duma voz de anjo, que cantava, para lá me encaminhei, e no centro desse círculo adorável, avistei o Arthur, que com uma grossa e tosca bengala, à guisa de batuta, marcava, à gentil cantora, um compasso impossível, ereto e teso como um boneco.
A reunião prometia ir muito além, se não fossemos interrompidos por uma senhora já idosa e de semblante alegre e bondoso, e à porta de cuja casa tinha lugar aquela agradável serata, a qual delicadamente nos pediu, fizéssemos ponto final, uma vez que já era tarde, e tinha necessidade de repousar.
Entre protestos surdos, íamos dissolver tão encantadora reunião, quando vimos o incorrigível Arthur, que entre reverentes e exageradas zumbaias e com palavras alambicadas, conseguia enfim da boa senhora, uma curta prorrogação.
Mais tarde, refestelado numa macia rede bordada, me achava eu a conversar com o Luiz, sobre assuntos comerciais, quando ouvimos, à nossa porta, a voz esganiçada do Arthur, que, num tom dolente, choramingava:
“Aqui estou em vossa porta
Em figura de raposa.”
Tivemos de abri-la, para dar entrada ao Arthur, Horácio e ao Raul que acompanhavam duas mimosas senhoritas.
Num ápice, improvisou-se, ali mesmo, uma sessão litero-cantante, na qual, após alguns recitativos, pelos representantes do sexo forte, uma das senhoritas, depois de recitar, com gracioso desembaraço o
“Vamos lá, toque a Dalila
Que também vou recitar”, de Gregório Júnior, cantou, numa voz, que certamente os anjos invejariam se ouvissem-na, uma saudosa modinha, enquanto o Horácio, todo casquilho e gamenho, com o queixo caído sobre o violão, arrancava desse instrumento sertanejo, notas harmoniosas que perfeitamente se casavam com a voz, argentina e mimosa da exímia cantora.
*
* *
Chegara enfim o dia da festa.
Imponentíssima, a missa solene que decorreu em meio de enorme assistência e ao espocar de foguetes e salvas, enquanto, no alto, o sino entoava gorjeios festivos, como se uma multidão de canários viesse ali pousar.
Durante o dia, o mesmo formigar constante, o mesmo vai e vem continuo, agora mais numeroso e que lhe emprestava também um tom mais de festa, em vista das duas bandas de música que frequentemente transitavam pela praça engalanada.
À tarde desfilou a procissão acompanhada por um número incalculável de devotos.
Pelas janelas, calçadas e até pelo meio da praça viam-se piedosas mulheres, de lençol a cabeça; homens rústicos, com enormes chapéus de couro e de palha grosseira debaixo do braço, ajoelhados, contritos, à passagem do andor da Virgem do Livramento, que, com aquele doce e maternal sorriso que tão bem (mutilado), abençoava aqueles romeiros súplices, numa explosão de amor e carinho.
Depois, a debandada geral. Vários cavaleiros, envoltos em densa nuvem de pó, passavam céleres, numa vertigem de fuga precipitada, enquanto senhoritas gentis, com a elegância e donaire de consumadas amazonas, montavam fogosos animais, que, orgulhosos de tão linda carga, erguiam altivamente a cabeça, sacudindo as crinas ao vento.
E fugiam sempre, como visões místicas, em meio dum coro de saudosos adeuses e votos de boa viagem, enquanto pelo ar, derramavam-se, em complicado e gracioso labirinto; milhares de lenços brancos como o lírio, e agitados docemente pela mansa brisa que perpassava então, esses interpretes, fiéis e eloquentes, da Despedida, talvez aninhassem furtivamente, alguma lágrima retardada que indolentemente viesse ali boiar.
Camocim, – 6 – 909.
PEDRO MOREL
Texto do Mons. Vicente Martins da Costa publicado no jornal "Nossa Senhora do Livramento" de 1909
PARAZINHO
Cerca de vinte e cinco quilômetros distante da cidade de Granja, paira a poética povoação do Parazinho, com as suas moradias brancas que se apinham em forma de quadro em volta da pequena ermida em cujo altar descortina-se a bela imagem de N. S. do Livramento a quem se atribuem prodígios miraculosos.
Parazinho é deste cantinho do norte a povoação incontestavelmente mais simpática, mais atraente, mais conhecida e mais alegre pela sua posição pitoresca, pelo seu clima salubérrimo, pelo seu aspecto risonho. Por suas casinhas bem alvas, por sua igreja pequenina de torrezinha branca perdendo-se no espaço, pelo seu regato de aguas cristalinas e murmurosas, pelos seus habitantes ordeiros e amáveis, e principalmente, notavelmente por sua festa tradicional a gloriosa Virgem do Livramento, que por dez dias toca ao delírio, fazendo divertir à perder a cabeça até o mais rígido velho de tempera antiga.
Jogos, diversões, reuniões, saraus, brinquedos de toda sorte, prendas, anéis, passatempos, divertimentos simples, íntimos e ingênuos, tudo que um espírito irrequieto, diversivo, sôfrego de entretenimento pode criar e inventar, tudo aí aparece para endoidecer a mocidade e lembrar aos velhos nessa idade de ostracismo e marasmo as doces recordações do passado.
Dez dias de festa! São dez dias de desatinos juvenis e alegrias delirantes.
Aí não há desigualdade de família nem proeminência de classe, nem rixas nem desafetos, nem lutas nem intrigas; por toda parte, em todo instante, quer às horas de um sol intente, quer aos começos tristíssimos da noite, senhoritas, crianças e cavalheiros, passam rindo, folgando gargalhadamente, aos grupos, num vai e vem constante, enchendo os espaços de vozes e risos, com grande encanto, em indizível harmonia, a derramar aqui as alegrias e emoções dulcíssimas de uma pas (mutilado) de flores.
No templo, aí nesse recinto que a piedade consagrou àquela que chamamos Maria, aí é que esse delírio que a todos inebria, toca o entusiasmo, chega ao religioso e torna-se divino. Aí é que respira-se a religião e sente-se a fé em suas belezas e transportes, em suas grandezas e sublimidades. Aí é que a alma repleta de amor e plena de veneração ajoelha-se ante a imagem dessa Virgem amabilíssima, e no extase da contemplação, na embriaguez dos mistérios altíssimos sente-se feliz, felicíssima e entoa cânticos piedosos, melodiosos, a excelsa Rainha, dispensadora dos tesouros eternos e celestiais.
Aí, finalmente, é que todos, grandes e pequeninos, jovens e anciões, de desigualdade de sortes e diversidade de condições vindos de diferentes lugares, unidos pelos mesmos elos de convicção e de crença, a despeito da impiedade que reina materializando tudo, negando tudo e pervertendo tudo, dão o mais vivo testemunho da fraternidade cristã que ensina o Evangelho do Calvário e clamam pelos seus votos, pelas suas ofertas e pelos seus sacrifícios, que Maria é a mulher por excelência, a virgem privilegiada, a senhora amabilíssima, santíssima, poderosíssima.
Para o último dia cerca de quatro mil almas se aglomeram no largo que compreende o belo povoado, que se transforma então em uma cidade em festa, em um pequeno mundo onde triunfam a religião e a crença.
De tudo que fica dessa festinha incomparavelmente simpática, resta lamentar somente, não haver aí uma escola para difundir a luz da civilização.
Mas não vem longe o dia em que o Parazinho contará com esse melhoramento para marchar a vanguarda dos povos cultos, civilizados.
O benemérito Dr. Nogueira Accioly que não regateia sacrifícios em prol da instrução, não retardará sancionar esse decreto tão benfeitor quanto desejado.
Padre V. Martins
Crônica
A FESTA DO PARAZINHO
Por: Raimundo Pompe
Há quem considere o passado um elástico temporal, na medida em que está sempre a se repetir na memória das pessoas, sobretudo daqueles que viveram na intensidade da sua plenitude. E para fazermos uma viagem no tempo, escolhemos um dos nossos acontecimentos mais marcante: “A Festa de Nossa Senhora do Livramento do Parazinho”.
Vejo pelos olhos da memória e recordações sentidas o tempo onde todos ansiosamente aguardavam o início dos festejos. A felicidade se manifestava na alma e no coração do povo, onde todo ele palpitava numa sugestão de alegria. A festa era de todos. Desde a criança que sonhava em aproveitar os dez dias de intensa animação, aos mais velhos, alguns já curvados pelos anos, com os olhos marejados de saudade ao recordar seu tempo de mocidade.
A cada ano a Festa ostentava mais fulgor. Entre os dias 22 de junho a 2 de julho o tristonho e sonolento Parazinho transformava-se num lugar vibrátil e trepidante. Uma massa incomputável enchia o lugarejo. Vinha invariavelmente gente dos mais diferentes lugares. Até de outros Estados. Os que vinham de longe chegavam em lotações do tipo “Jardinheiras”, meio de transporte bastante comum naquela época, e ficavam alojados em redes, nas próprias carroçarias dos caminhões.
A viagem não era muito prazerosa. Não havia terraplenagem, e portanto, sobravam buracos na antiga estrada. Os únicos meio de transporte eram jipes e caminhões paus-de-arara, que apinhados de gente, atravessavam o nosso rio Coreaú, invadindo aquela carroçável estreita e sinuosa, deixando para trás o rastro fulgaz de poeira naquela paisagem buliçosa.
Meu pai era “chauffeur” de praça, diariamente ia e vinha em seu velho jipe, ano 54, de fabricação americana, levando e trazendo famílias inteiras que iam participar das solenidades religiosas. Eu adorava acompanhá-lo nas suas viagens. Para mim era uma aventura "Off-Road".
Lembro-me que durante as quatro léguas de percurso, era comum se encontrar várias pessoas a cavalo e outras a pé, com direito a descanso naquela antiga casa alpendrada dos Gracianos, no “Mato Grosso”. Não era para menos. O imenso areal da estrada exauria as canelas dos devotos, que só sentiam alivio quando avistava as “cruzinhas”, sinal que a caminhada estava quase no seu fim.
Mesmo assim, nem a exaustiva caminhada, nem os sacolejos e balanços das carroçarias dos caminhões eram suficiente para roubar o ânimo dos fiéis que com suas roupas e os cabelos embatumados de poeira, invadiam as ruas da antiga povoação, alegres e trêfegos, como um “pierrot” em baile carnavalesco.
A entrada era pelo mesmo lugar. De longe dava para se ouvir os foguetes pipocando no ar e o timbre sonoro e forte do sino da igreja chamando os fiéis para a oração. Em pouco tempo a igreja estava “tinindo” de gente para participar das missas e novenas, soleníssimas. A todos instantes ouvia-se os vivas exaltados num atestado eloquente da mais acentuada fé a Nossa Senhora do Livramento.
Relembro com saudade aquela magnífica banda de música executando lindos dobrados nas alvoradas nas manhãs frias do mês de junho, numa harmonia inebriante na sua riqueza de ritmos e de sons, cujas músicas ainda me soam os ouvidos. Quanta coisa bonita pontilhada de ternura!
Como eu era criança, dada a minha pouca idade na época, pouco me lembro do tempo em que o vigário era monsenhor Vitorino de Oliveira, no entanto ainda lembro-me da sua figura no patamar da igreja recebendo seu rebanho de fiéis com satisfação e jeito. Consoantes os que me afirma, ele era um homem respeitado por todos e, portanto, seu nome sempre será lembrado. Deixou este mundo, faz anos.
Após as solenidades religiosas, rapazes e moças rodeavam a igreja maior, enquanto que ao redor da igrejinha antiga, vestuta, outros casais travavam namoro às escondidas. Naquele tempo havia austeridade, respeito. Hoje é que nos namoros acontecem esses agarrados nú, às claras.
Enquanto isso, por outro lado, milhares de pessoas subiam e desciam aquelas ruas pedregosas do velho Parazinho. Era gente pra lá e pra cá, de barraca em barraca. Havia de quase tudo para se comprar. Desde coisinhas miúdas, bugigangas, quinquilharias, às luxuosas barracas dos joalheiros, onde sob a luz dos “Petromax” brilhavam as jóias e miçangas caprichosamente expostas em mostruários forrados na mais fina vaqueta vermelha, semelhando-as a um rico tesouro. Ali havia todo tipo de novidades: medalhas, trancelins, correntes, brincos, alianças de noivado e anéis de luxo encimados por enormes pedras coloridas.
Da Serra Grande vinha os comboieiros, sempre trazendo nos lombo dos jumentos, vários grajais com muitas frutas e verduras, além de uma ruma de batidas, tijolos, bolos“manuês”, e também alguidar, panelas, potes e jarras de todo tamanho, tudo feito do mais puro barro.
Não faltava também aqueles fotógrafos ambulantes e suas máquinas lambe-lambe, montadas sobre um tripé de madeira, onde a matutada se comprimia para tirar um foto exibindo seu “pincenês” de lentes escuras, junto aqueles painéis pintados com a imagem do taumaturgo São Francisco do Canindé. Fotos coloridas naquele tempo só aquelas nos pequenos "monóculos', que ficavam expostos pendurados num cordão. Meninos como eu eram doidos para se fotografar montado naqueles cavalinhos de madeira.
Para os que liam, havia os vendedores dos livretos de literatura de cordel. E para animar os que pouco liam os violeiros fazendo rimas no mais autêntico improviso desfilando seus repentes ao gosto do freguês. Até os “botadores” d’água paravam seus jumentos com ancoretas e tudo, e ficavam de queixo caído em admiração aos repentistas, e de vez em quando os níqueis iam caindo, uma a um, nas “coités” dos poetas. Mais adiante ouvia-se vozes diferenciadas. Eram os vendedores de ervas, raízes medicinais e daqueles célebres óleos e pomadas “milagrosas” que acabava de identificar na sua platéia mais um portador de uma enfermidade capaz de ser curada pelo produto em questão. Tinha remédio para todo tipo de “murrinha”.
Naquele tempo não havia festinhas, sambas e maxixes. O vigário impedia tudo isso e o povo, passivamente, aceitava, com medo de ser enquadrado na categoria de subversivo. Que eu me lembre, os arrasta-pés só passaram a acontecer já de uns anos para cá, no meu tempo de rapazola, mais isso só acontecia do outro lado da parede do açude, no “Rabo da Gata”.
Certa vez, em uma das minha noite de vadiagem, eu, em companhia de amigos, resolvi furdunçar naquele palco onde funcionava o bagaço que glorificava a “cana”. Acabei me influindo para aprender a dançar, para depois, entrar nos bailes da chamada sociedade, e aí fui parar no “Salão” do seu Paixão. Não havia energia elétrica. A iluminação do ambiente eram lampeões com querosene, feitos de garrafas de vidro com o pavio de estopa. Foi ali que arrisquei os primeiros passos de dança, mas logo no início desisti dos ensaios. Tudo não passou de um malogro, de um fiasco, para não dizer de um desastre a minha estréia na arte coreográfica, e logo nos começo acabei pisando nos pés do meu primeiro par, uma cabrocha da “Tiáia”, que reclamou aperreada, com os dedos todos pisados, e eu capitulei, abandonando a ideia de ser dançarino. Foi nesta mesma noite assisti, pela primeira vez na vida, um ensaio de briga de faca. Apavorado, dei uma baita carreira, ganhando o bredo, descendo, aperreado, aquelas ruas rampeadas.
Mas a diversões preferidas era mesmo nos “botes”, aquele tipo de barquinho que todo ano ficavam instalados no largo na entrada da rua principal. Gente ali era como confete. Todo ele pronto para se balançar naquelas barquetas de madeira.
Mas no velho Parazinho, animação se via na noite de São Pedro. Eram tantas fogueiras que parecia o incêndio que dizimou a Roma de Tigelinus, a mando do imperador Nero. As calçadas ficavam lotadas de gente. Em cada casa ardia a chama da tradição. Por gosto se via famílias inteiras reunidas, a deleitar-se em animadas rodas de conversa, numa ciranda festiva. Era noite de alegria e fartura, de pedaços de carne assada na brasa.
Fartura e comida gostosa, no Parazinho, a gente também encontrava na cozinha cheirosa da Pensão da dona Moça Cafajé, que era um primor de higiene. Sua densa e suculenta culinária seduzia a gente: galinha à cabidela, linguiça caseira, sarapatel, panelada e carne de de criação "muçiça”, cozido de boi e aquele delicioso pirão escaldado, fumaçando como chaminé. Era de encher a boca d’água. Merecia ser saboreada de joelhos.
Tudo isso ficou pra trás, perdido nas páginas amareladas pelo tempo. São fatos e personagens que marcaram uma geração, e que a geração atual não terá como conhecer, sem os esforços das recordações daqueles que presenciaram tudo isso, e hoje, de alguma forma, desejam perpetuá-los na memória histórica da Festa do Parazinho.
Porém, esses escritos não se trata de saudosismo, apenas. É uma maneira de tentar resgatar as coisas boas da Festa do Parazinho, nos tempos de outrora, pois é como diz uma canção de sucesso: “nada do que foi será do jeito que já foi uma dia...”
Raimundo Pompe
Livro "Parazinho" de João Victor Mascarenha
- Biografia do Autor:
João Victor de Oliveira Mascarenha, nasceu em Camocim-CE aos 04 de março de 2002, residindo em Parazinho desde o tempo em que nasceu.
Pesquisador da história e cultura de sua região, homem do povo, gente da gente, poeta, escritor e celebrante de ofícios religiosos; Não se orgulha nem se vangloria de seus dons e saberes, ao contrário, com muita humildade coloca-se a disposição de todos, principalmente dos que não tiveram acesso ao conhecimento.
Fundou em Parazinho o Museu Monsenhor Vicente Martins da Costa, onde apresenta aos visitantes a história e cultura de Parazinho, atualmente luta pela estruturação do Museu e sua oficialização por parte das autoridades competentes.
Apresentação do Jornal "N.S. DO LIVRAMENTO" É com profundo respeito à memória histórica e com sincera devoção que temos a hon...