Monday, September 23, 2024

A Festividade de Nossa Senhora do Livramento de Parazinho

 13° Capítulo do Livro "Parazinho" de João Victor Mascarenha 



    As festividades religiosas como celebramos hoje em suma, iniciaram no Brasil no segundo quartel do século XVIII, antes dessa época eram realizadas apenas curtas peregrinações ou apenas a missa ou celebração em louvor aos padroeiros.

   Em Parazinho, temos registros a partir desta época, que divergem muito dos tempos que se sucederam; não existia um clima religioso e o foco era distorcido para os divertimentos, brincadeiras e danças da época.

  Segundo consta em alguns documentos amealhados no Instituto do Ceará, o Padre Antônio Thomaz Teixeira Galvão ao assumir como Vigário de Granja em 1850, viu-se escandalizado com as “Noveninhas de seus paroquianos”. 

     É de notar a estranheza do Padre, pelo registro do Prof. José Eleutherio da Silva no Jornal Pedro II de Granja em agosto de 1862 em que trazia vários aspectos das festividades da época de seu vicariato que durou 47 anos.

“Na distância de cinco léguas desta cidade, existe uma capela de Nossa Senhora do Livramento, em um lugar denominado – Pará –, onde existem apenas 2, ou 3 moradores; mas pelo tempo da festa (que é 2 de julho, dia da visitação de Nossa Senhora) comparecem os povos da vizinhança e de outros lugares da freguesia”.

“Este ano foi uma concorrência imensa desta cidade, homens, e mulheres”, aí podemos ver uma descrição de Parazinho à época, com poucos moradores e como um lugar insolado, também a presença de pessoas de outras cidades.

   O autor continua narrando sobre os divertimentos que geraram tamanha estranheza ao Pe. Galvão, também relata a dispersão do povo aos ofícios religiosos em honra da Padroeira:

“Disseram-me que houve moscas por cordas e mosquitos por arames; isto é, que houve muito comes e bebes, muito outrago, lasquinet, e trinta e um: muito samba com a rabeca do Caninana, e muito espírito do diabo, isto é aguardente, nome que lhe dou em minha fraseologia, mas nenhuma oferenda, ou oblata oferecida a Nossa Senhora do Livramento para luzimento da sua festa, e maior esplendor da sua capela”.

“Nem se quer houve dinheiro para se pagar a um sacerdote que fosse fazer as novenas, foram estas feitas, pelo ex-sacristão Antonio Sabino da Rocha Franco, o qual deu graças a Deus, ser chamado para isso, afim de ganhar alguns vinténs, que sempre lhe serviram para mandar ao açougue ao menos oito dias; porque só fez oito novenas, a da véspera foi feita pelo reverendo Manoel Proto Lopes da Paz, vigário interino desta freguesia, o qual foi fazer a dita festa, que constou da missa cantada, e procissão; assistindo a música, a festa e novenas do princípio ao fim”.

    Podemos ver certo abandono da parte espiritual e ausência de sacerdote que pudesse celebrar durante a festa. Na época a Paróquia era governada pelo já citado Pe. Galvão, que foi por diversas vezes e por diversos motivos, afastado temporariamente de suas funções, assim só nos dois últimos dias um padre foi celebrar o final da festa, nota-se também a presença da banda de música, que como podemos ver, é uma tradição desde os primórdios de nossas festividades.

   Por algum motivo específico, mas sem registro algum do motivo, em certo período o dia da festa foi celebrado no primeiro domingo de julho, em 1900, voltando ao dia 02 de julho. A festa só ganhou a grande solenidade vista em poucas décadas atrás, a partir do vicariato do Padre Leandro Texeira Pequeno e principalmente do Monsenhor Vicente Martins da Costa. 

  Esses foram os primeiros a registrarem a história de Parazinho, é também dessa época os textos das orações da Novena que foram recentemente recuperadas pelo atual Pároco de Parazinho, Pe. Antonio Kelton Oliveira Marques.

    Monsenhor Vicente Martins solidificou de vez o culto a Nossa Senhora do Livramento de Parazinho por meio da propagação da história e devoção, também trouxe esplendor a igreja velha onde atuou, inclusive promovendo sua ampliação transformando-a em formato de cruz.

      Em um jornal de 1909, época do vicariato do Mons. Vicente, vemos uma festa celebrada com mais zelo e devoção, com a presença de cerca de 4.000 fiéis, número altíssimo para a época, principalmente para o isolado Parazinho, pois não haviam estradas e o único caminho eram as veredas e só se podia vir a pé ou a cavalo. As festividades também passaram por ameaças de suspensão devido às secas e epidemias, mas nunca foi suspensa sob o paroquiato do Monsenhor Vicente.

    Na década de 20 do Século passado, na época áurea das festas, Mons. Vicente Martins descreve a festa como sendo consagrada uma das maiores da região, com a realização de novenas, quatro procissões, missas, batizados, etc.

    As procissões eram a da bandeira, do estandarte dos milagres, do barco de Nossa Senhora e a procissão do dia de Nossa Senhora em que todas as imagens da igreja eram conduzidas nos andores. A procissão do Barco de Nossa Senhora deu lugar à procissão de São Pedro, sendo utilizado até hoje o mesmo barco.

     Mas os divertimentos mundanos e as confusões continuaram, mesmo com o trabalho apóstolo do Mons. Martins e de outros pregadores, o que levou Dom José Tupinambá da Frota a proibir em 1932 a realização de qualquer festa dançante durante a festa, sob pena de suspensão da festa e interdição da Capela, o que ocorreu em 1958. 

    Essa proibição foi observada até poucos anos, hoje em dia não é mais obedecida; mas pelo bem da verdade retórica, registro aqui que o decreto episcopal ainda está valendo por ser irrevogável.

    A festa seguiu os moldes projetos pelo Santo Monsenhor Vicente Martins por muitas décadas e até pouco tempo eram preservadas as tradições pelos párocos que inclusive continuaram a celebrar a novena de frente para o altar, mesmo após o concílio, essas tradições foram mantidas pelo saudoso Monsenhor José Maria de Vasconcelos e foram abandonadas após sua morte.

      A festa de Nossa Senhora do Livramento de Parazinho é a 3° maior e mais antiga festa religiosa do Ceará, a maior da Zona Norte. Milhares de Romeiros se dirigem ao Parazinho durante os dias 22 de junho a 02 de julho para agradecerem, “pagarem” suas promessas e cumprirem as tradições religiosas de nosso povo. 

      Registramos a presença de peregrinos de todas as cidades da Zona Norte do Estado, bem como das demais regiões e de diversos outros Estados, com predominância do Piauí e Maranhão; também em maior número os romeiros do Mato Grosso, Pará, Rio de Janeiro e São Paulo.

     A Festa do Parazinho é um sinal de fé e esperança para o povo católico do Ceará e do Brasil inteiro, e merece e precisa de uma maior atenção das autoridades civis e eclesiásticas. 



Obs: Todos os direitos reservados ao autor do livro, João Victor de Oliveira Mascarenha. 

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